A educação moderna não forma coletivamente seres humanos que tem consciência de que possuem um Eu, de que esse Eu é construído através de mecanismos sofisticadíssimos, de que esses mecanismos deveriam desenvolver funções vitais nobilíssimas, e de que, sem o desenvolvimento dessas funções, ele poderá estar completamente despreparado para pilotar o aparelho mental. E por estar despreparado, será conduzido pelas tempestades sociais e pelas crises psíquicas como um barco à deriva, sem leme.
AUGUSTO CURY – A FASCINANTE CONSTRUÇÃO DO EU
Tomamos consciência de “quem somos” de uma maneira gradativa, precária e incipiente através do relacionamento com outros seres, com o meio e com as situações que ocorrem na vida cotidiana.
Ao nascermos, e nos primeiros contatos que temos com a vida exterior, vamos participando de situações que afetam nossos sentidos, as quais vão se armazenando em nossos registros mentais como impressões, experiências, informações e, principalmente, como resultados das decisões que tomamos ao reagirmos diante dos fatos, pessoas ou situações que nos afetaram.
Esse conjunto de características e procedimentos automatizados que construímos o qual chamamos de personalidade. É esse o nosso jeito de ser, de agir e, principalmente, de reagir.
A construção de nossa personalidade se fez, e continua sendo feita, através das experimentações que estamos vivenciando e pelos fatos que, indelevelmente, impregnaram e marcaram nossa retina mental.
Cada pessoa forma, portanto, a sua própria personalidade, que é particular e intransferível e mesmo que tentemos impô-las a nossos filhos, parentes, amigos ou às pessoas que nos cercam, ela nunca poderá ser estabelecida e padronizada.
Essa personalidade ira nos acompanhar por toda a existência e, em função do que instalamos em nossa memória sutil, nossa personalidade irá nos proteger ou nos prejudicar, diante das situações emergentes.
Podemos dizer que nosso corpo assimila todas essas informações de várias maneiras. Elas são incorporadas tanto em nosso veículo físico quanto em nosso veiculo mental, e mais tarde reagiremos espontaneamente, sem sabermos “como e porque”, pois perdemos a lembrança do que instalamos em nosso mundo mental, quando ainda não tínhamos consciência do que estávamos aceitando como verdades.
Existe um ditado popular que diz: “a primeira impressão é a que fica”, e nada mais notório do que essa afirmativa, pois, principalmente em nossa primeira infância registramos fatos que irão nos influenciar por toda a vida. Alguns fatos nos ajudarão a seguirmos corajosamente pela vida, mas outros nos tornarão seres temerosos e vacilantes, fazendo-nos carregar por toda a vida pesos enormes, desnecessários, e que nos afetam profundamente.
A construção de nossa personalidade não é, normalmente, bem conduzida pelos mais velhos, pelos mais experientes, que acabam, por vezes, induzindo-nos a sermos mais neuróticos que eles próprios, pois quase sempre, nem eles mesmos sabem o que tem instalado dentro de si!
Nota: Como a filosofia ocidental condiciona o indivíduo a ser independente, ele tende a focar em objetos centrais. Já os orientais, que pregam a interdependência, costumam enxergar a cena como um todo. Portanto, é possível afirmar que os ocidentais enxergam menos, mas com mais detalhes, e que os orientais têm uma visão mais ampla e abrangente. Porém, se um oriental for viver no ocidente ou vice e versa, a forma de enxergar pode mudar.
Agora, se pensarmos em seres de outros planetas, que coabitam aqui com todas as suas idiossincrasias, então tudo fica muito mais difícil ainda!
PERSONALIDADE
Podemos dizer que é o conjunto das características que determinam os padrões de pensar, sentir e agir de uma pessoa, ou seja, a sua característica individual, a que a diferencia das demais. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único a cada indivíduo.
Nossa personalidade é constituída por três dos principais corpos que utilizamos para nossa expressão: “o físico, o mental e o emocional”.
Como a personalidade é uma somatória de características adquiridas pelos corpos acima expostos, chamaremos de “Ego” o veículo que carrega essa personalidade.
Estamos, portanto, diferenciando o “Ego” do “Eu”. Estamos associando ao Ego apenas a persona, e ao Eu, a Centelha Divina, aquela individualidade específica que vive em nós e nos acompanha na vida eterna.
- A Persona (do latim persona), na psicologia analítica (Jung) é dado o nome à função psíquica relacional voltada ao mundo externo, na busca de adaptação social.
- Eu Maior é uma unidade divina, um ponto de luz, é a Essência Divina. O universo, e toda a criação, é composta por infinitas Unidades Divinas, em seus diferentes graus de natureza e evolução, todas elas vibrando em harmonia com o Criador Absoluto.
Cada um dos corpos mencionados (físico, astral e mental) tem sua função específica e são os instrumentos de nossa Alma, da Centelha Divina que mora em nós.
Nota: Às vezes iremos usar o termo “Alma ou Espírito” no mesmo sentido de “Centelha Divina” apenas para facilitar a compreensão, porém atente em para o significado profundo do termo “Centelha Divina” quando falarmos em Alma ou Espírito.
Existe uma figura indiana que associa a nossa personalidade, o nosso “EGO”, a uma carruagem.
Nela cada parte tem sua função específica:
- O cavalo representa as nossas emoções,
- O cocheiro representa os nossos pensamentos e
- A carroça representa o nosso corpo físico.
Portanto, o nosso corpo físico não age por si só, recebe o impulso das emoções e é governado pela nossa mente. Todos esses instrumentos são utilizados para conduzir o “passageiro” (o Espírito encarnado ou a Centelha Divina) o “EU” ao seu destino de auto realização.
Acontece que, ao longo do estagio inicial de nossa existência espiritual, nossa Centelha Divina esta “inconsciente” e deixa-se ser levada pelas decisões tomadas pelos nossos pensamentos, pelos nossos desejos ou mesmo pelas necessidades de nosso corpo físico, sem falar que, via de regra, neste estágio inferior, deixa-se levar pelo que os outros mandam fazer!
Nesse ponto é que começam os nossos sofrimentos. Perdemos o foco de nossa vida e cada setor, cada corpo, como se fosse independente dos demais, toma decisões partidárias, sem conexão com os objetivos maiores de nosso Espírito.
REFLITA COMIGO
Se, por exemplo, um gerente comercial e uma empresa vender algo motivado apenas pelo impulso de vender sem consultar a engenharia, poderá negociar um produto que a fábrica não conseguirá fazer, e o proprietário da empresa poderá ter prejuízo.
Essa simples analogia de nossa Personalidade com uma Empresa ajuda-nos a entender o funcionamento de nossos instrumentos, que chamamos aqui de corpos (físico, emocional e mental) a serviço de nosso Espírito.
Numa Empresa o gerente de vendas (que representa o corpo emocional) e o gerente de engenharia (que representa o corpo mental) devem estar congruentes e alinhados para emitirem para a fabricação (que representa o nosso corpo físico) uma ordem de produção (ou de um serviço a ser executado) que atenda a todos os requisitos de qualidade, segurança e as necessidades do Cliente (que representa o nosso Eu, ou Espírito).
Mas não é sempre assim que ocorre. Via de regra uma empresa vai mal por má administração de seus gerentes, da mesma forma, que nosso Espírito sofre pela má administração de nossos gerentes emocional e mental.
MUDANÇA DE COMANDO
Para haver um alinhamento de intenções, uma congruência entre o pensar, o sentir e o agir, deve haver uma renúncia peremptória do poder de cada gerente, “renúncia do Ego em prol do Eu”.
Em uma empresa, bem como em uma família, onde o dono ou o pai, não participa e não vivencia os problemas das gerências ou dos filhos, se omitindo, provavelmente se deparará com graves problemas futuros, e de difíceis soluções, podendo levar a empresa, ou a família, à falência ou a dissolução.
Durante milhares, ou milhões de anos, temos formado a administração de nossos instrumentos físicos, mentais e emocionais, o nosso Ego, para nos estabelecer e nos manter vivos e encarnados.
Para isso, as situações ocorridas, as experiências vivenciadas foram nos colocando em situações que nos forçaram a tomar decisões. O fato de ter que tomar uma decisão por nós mesmos é uma das mais importantes tarefas que temos para nos construir intimamente.
Pense bem: nós não fazemos outra coisa na vida do que tomar decisão:
– Faço – não faço.
– Vou – não vou.
– Aceito – rejeito…, e assim por diante.
– Quantas decisões nós tomamos por segundo?
– Quantas são conscientes e quantas involuntárias?
Tudo na vida concorre para que nos especializemos em tomar decisões e estas ficam armazenadas em algum lugar dentro de nós.
A principio tomamos decisões muito simples, ou seja, destituídas de uma analise ou de uma verificação mais profunda, que pudesse afetar ao nosso futuro. Formamos assim nossos instintos de conservação, memorizando as soluções tomadas que nos protegeram e automatizamos as funções e ai, não mais pensamos nelas.
Nota: atualmente estamos tentando automatizar a função amor bem como a caridade, a humildade, o altruísmo… que ainda não são automáticas e nem espontâneas em nós. Um dia elas serão espontâneas como hoje são automatizadas uma porção de reações instintivas, revolta, revide, … Podemos dizer que isso é um padrão universal, em todos os orbes: automatizamos funções para desenvolver outras.
Tomamos então muitas decisões impulsivas, imediatistas, as vezes forçadas pelas circunstâncias, outras vezes para satisfazer algum desejo ou aspiração, ou mesmo alguma necessidade presente.
Com isso, e com o tempo, começamos a ver que muitas das decisões nos beneficiaram e outras nos prejudicaram, trazendo dissabores e sofrimentos.
Passamos então a refletir mais sobre o que fizemos, confrontando o que aconteceu, e seus resultados, com o que gostaríamos que tivesse acontecido e então nos propomos a tomar disposições diferentes das anteriores, menos irrefletidas.
Porem nossos “gerentes” mentais e emocionais estão “habituados” com os tipos de decisões que tomávamos anteriormente (sem pensar e sentir muito nos resultados) e se rebelam, se recusam a mudar, quando assim tomamos decisão.
Cria-se um conflito interior: nossa consciência, que podemos entendê-la como um “co-piloto”, o navegador de nossa carruagem, que é a ponte entre o cocheiro e o passageiro, nos adverte do que “devemos ou não devemos fazer”.
Então se estabelece o conflito entre os gerentes internos: os desejos querem algo diferente dos pensamentos e a consciência mostra que algo esta errado…
Nesse estágio é que começa a se encontrar a presença do comandante supremo: “o Eu”.
A Centelha Divina “percebe” que tem que começar a tomar partido, interferir, se interessar mais ativamente do processo, demitindo a autoridade do Ego, representada pela personalidade formada pelos interesses e conquistas dos corpos físico, emocional e mental, e se dispõe a fazer o que deve ser feito realmente.
Ela passa a focar mais a “consciência” e menos os “desejos”, que passam a ficar submetidos a ela.
Nossa mente registrou, ao longo do tempo, informações e procedimentos que foram adotados quando uma emoção muito grande nos afetou (por exemplo um trauma) e tomamos decisões que passaram a ser únicas e permanentes (as vezes totalmente inadequadas), independentes das situações terem se modificado ao longo do tempo, trazendo-nos insatisfações constantes.
Nosso Presidente, o Eu Maior, não estando “consciente” do que esta acontecendo, sente-se oprimido.
Passamos a querer meditar, refletir sobre as situações e não conseguimos. Sentimos que nossa mente e nossas emoções tem que resolver os conflitos íntimos e com isso abrimos e alimentamos “janelas killer”, como bem se expressa Augusto Cury, e entramos em círculos viciosos sem saída.
É como se nosso gerente mental e nosso gerente emocional necessitassem de reciclagem (ao que chamaremos adiante de Reforma Intima). Eles por si sós, não conseguem se auto gerirem, se rê-equalizarem, sem a orientação e o direcionamento do Eu Maior.
Na renuncia do Ego, ou seja, na renúncia do domínio e do comando das decisões capitais tomadas pelos três corpos, o Eu pode começar a tomar posse.
O Eu Maior tem todas as condições de poder e de sabedoria para bem governar, dar as ordens de comando, dar direção e sentido para a condução da vida.
É claro que os procedimentos continuarão a serem feitos pelos gerentes dos corpos físico, mental e emocional, pois foram treinados há milênios para isso, porem agora subordinando-se às ordens e diretrizes do Comandante Superior que é o Eu Maior.
Ao longo de nossa existência, ou melhor, ao longo de várias existências que tivemos, foi muito importante que os gerentes dos corpos tomassem as diretrizes para governarem nossas existências, pois fora assim o único meio de aprenderem como agir, como aprimorar os instrumentos, como aplica-los de forma otimizada e como ir entendendo como funcionam as Leis Divinas que nos regem.
Automatizamos funções ao longo do tempo. Despertamos valores latentes e os transformamos em poderes ativos, para disponibilizá-los à nossa Centelha Divina. É Ela quem ira usar esses recursos e não os nossos gerentes.
Veja bem, os pensamentos, as emoções e as ações são instrumentos a serem utilizados pela nossa Centelha Divina para um propósito superior e não ao contrário.